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24/03/2020 00:19

Por que não se fala de Covid-19 na África? Por Gilda Portella

Os dados sobre o Coronavírus-19 no Continente Africano são poucos. Nas principais agencias de noticias o assunto é escasso e apresenta uma oscilação em relação aos números dos países afetados e total de casos confirmados. O Globo registra mais 42 países africanos com casos confirmados; na sua maioria pessoas que vieram do exterior. Já o Terra, no dia 21 de março, fala em 40 países afetados, o Jornal de Angola apresenta 38 países, e o Observatório da África apresenta um total de 29 países atingidos pela pandemia.

Por que não se fala sobre a pandemia do Covid-19 na África? Invisíveis para quem? Por quê?  Quem não consegue ver que estatísticas não são meros números. São vidas. São vidas negras. E vidas negras importam.

As concepções brasileiras de ciência, de doença, vida e morte são baseadas numa visão eurocêntrica, eugenista, portanto, racistas e misóginas. È uma das faces originadas no percurso da discriminação racial, cicatriz das relações raciais no Brasil. Pode-se dizer que o quadro acima é manifestação necropolítica do racismo institucional.

Qual a destruição que a Covid-19 provocará nas regiões menos preparadas do mundo para enfrentá-lo? Em África, faltam equipamentos e materiais técnicos, unidades de terapia intensiva, médicos, enfermeiros e a rede de proteção social é uma das mais vulneráveis do mundo.

Coronavírus avança na África de acordo com o Globo há mais de 1.200 casos confirmados, sem mencionar as mortes. Para o Terra, são mais de 1.088 casos confirmados e 31 mortes. A situação no continente é de abandono, pois sistemas de saúde são precários e há ampla presença de doenças, como AIDS e tuberculose.

O Jornal de Angola informa que o número de infecções pelo coronavírus em África ultrapassou os 900 casos, com registro de 24 mortes, nas estatísticas recentes sobre a pandemia. O Observatório da Àfrica apresenta somente 350 casos confirmados no continente e omite as mortes.

O filosofo Francês de Martinica, Frantz Fanon, diz que o homem negro não é um homem, é um homem negro. Também por isso, pouco se fala nesta pandemia, os casos africanos e as mortes. Há as pessoas e as não-pessoas. Há Europa branca, centro do poder político e econômico e a África negra, periférica na geopolítica mundial. Nessa exploração desumanizadora – despessoalizadora, não ouvimos, não enxergamos, não falamos dos que não são nossos pares...  

A principal preocupação apresentada nas reportagens é a suspeita de que haja transmissões não detectadas, por falhas e deficiências do sistema de vigilância em saúde dos países africanos. Alem disso, se deve mencionar que o continente foi marcado pela colonização, guerras, misérias e governos autoritários, tal situação gerou um grande número de pessoas vulneráveis. Vale destacar que tais grupos sociais já afetados por ausência de saneamento básico, coleta de lixo, saúde, educação, moradia, sem emprego e alimentação serão os primeiros a se infectarem e a morrerem.

 Há o receio que o surto do Covid-19 se dissemine nas regiões mais pobres, onde o sistema público de saúde mal estruturados, irão rapidamente implodir; o outro temor é que países pobres e incapazes de oferecer serviços básicos para a maioria de suas populações, com economias frágeis, não consigam apoiar seus cidadãos. Tais omissões institucionais e as mortes por elas geradas devem ser denunciadas junto às organizações e cortes internacionais.

O genocídio da população negra será dramático, se não forem tomadas as devidas medidas, que levem em conta as desigualdades no acesso a direitos e serviços, para frear o triste evento do coronavírus tanto lá na África como aqui no Brasil.


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