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05/07/2020 23:18

EPIDEMIA DO BEM por Luiz Renato Pinto

 

 

 

Cresci em uma família composta por um pai cético e uma mãe que não se encaixava em religião oficial, mas que tinha apreço pela espiritualidade. Tenho vagas lembranças de sua mediunidade, manifesta volta e meia em situações cotidianas. Aquilo, mal resolvido dentro de casa, trouxe certo receio quanto às práticas, hoje desmistificadas por mim, tendo-as também com muito apreço.

Quando assisti ao filme “Nosso Lar”, senti um choque, sobretudo pelas cenas do Umbral. Depois, estudando um pouco da doutrina, tudo pareceu suave. Leio, para matar saudade das aulas dos cursos que fiz em Barra do Garças, no capítulo oito “Organização de serviços” o relato de André Luiz sobre  oque chamou de “Espetáculo das ruas”:

Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiram ininterruptas. Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:- Estamos no local do Ministério do Auxílio. (LUIZ, 2016, p. 51). 

Lendo “O incrível céu dos cachorros”, de Lucilene Machado, reencontro a possibilidade de uma vida em harmonia pela ideia personificada que a leitura traz da vida eterna dos cães, desde os mais rudes e violentos, aos serenos e detentores de docilidade extrema. Aprendo com seu livro que “Não existe inveja no céu dos cachorros” (MACHADO, 2018, p. 18).Lá, sem a presença humana, estão livres da “Contaminação de egoísmos”(MACHADO, 2018, p.8), espécie de vírus que empreende epidemias constantes, como a que vivemos no momento. Só que não!,bem piores, pois, doenças da alma.

Lembro-me das aulas do curso básico da metodologia Auta de Souza em que falávamos sobre animais, se teriam alma, ou não. No capítulo 34 de “Nosso Lar”, leio que “Estacaram as matilhas de cães ao nosso lado, conduzidas por trabalhadores de pulso firme” (LUIZ, 2016, P. 193). No reino dos cães, em plena Constelação Cruzeiro do Sul, o narrador de Machado me diz que no Átrio os operários não podem entrar, não têm acesso. É local de frequência apenas para quem participa da linha de montagem dos corpos que receberão suas almas.

O espaço é comandado pelo senhor Bonifácio, quem encaminha os corpos na esteira, para que se ajustem cabeças, tronco e membros, sendo a pelagem a última componente do processo (MACHADO, 2018, p. 23). Há toda uma hierarquia por lá: LOBO SAGRADO, o todo poderoso que a tia Beth foi conhecer LOBO SACERDOTE, que insufla alma nos corpos e procede à catalogação (MACHADO, 2018, p. 23), o LOBO PERFEITO, que espera os corpos para instalar o programa, quero dizer, as almas.

Ainda há os LOBOS ALBINOS, que comandam a produção dos filhotes encomendados (MACHADO, 2018, p. 14), os LOBOS BRANCOS e os LOBOS PERFEITOS, estes responsáveis pelo controle de qualidade. Depreendo da leitura que são os que garantem que cada um dos corpos esteja programado para amar ao próximo sobre todas as coisas. Lá, “TODOS OS CÃES SÃO BONITOS”. (MACHADO, 2018, p. 8).

Tia Beth foi quem contou para Lucilene desse mundo encantado. Ela, adoradora de cães, que nunca havia encomendado nenhum, mas sempre adotava os que eram abandonados, foi quem descobriu o portal para o reino encantado. “Ela estava caminhando, pela tarde, com vários de seus cães, quando a terra foi se tornando curva para cima e o céu tornando-se curvo para baixo”. (MACHADO, 2018, p.12). Preciso de um telescópio para procurar o reino. Não que eu queira encomendar algum cachorro, já tenho dois em casa. Quando a fêmea entra no cio, nenhum dos dois quer comer nada, incrível o instinto animal.

Não me parece que seja amor. Será que ao morrer eles irão para o reino dos cachorros? Volto para casa com aquilo na cabeça. Um livro é apenas a porta de entrada para sentimentos, bons, ou ruins, uma vez que na vida terrena o que há são juízos de valor. Se eu voltar a ser criança um dia, já sei o que pedir ao papai Noel quando chegar o natal. “Hoje, qualquer pessoa pode ter um telescópio”. (MACHADO, 2018, p.4).

 

REFERÊNCIAS

LUIZ, André. In: XAVIER, Chico (psicografador). Nosso Lar. 64. ed.  Brasília: FEB, 2016.

MACHADO, Lucilene. O incrível céu dos cachorros. Canoas, RS: Meraki Publisher, 2018.

 

 

 

 


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