28 de março de 2024 - 11:16

Cultura

Exposição Bença

Sabedoria e religiosidade popular invadem Misc com exposição "Bença"

Reforçada pela importância da celebração da Consciência Negra, ao longo de novembro, a exposição se caracteriza também por levar o conhecimento dos lares para dentro do Museu

 

 

 

Entremeadas à cerâmica, poesia e pintura, plantas de proteção e cura se fundem às composições da mostra “Bença”, aberta para visitação a partir desta segunda-feira (5) no Museu de Imagem e do Som de Cuiabá (Misc). Resgatando o imaginário circundante a avós Marias, Chicas, Detinhas e Franciscas - que abençoam sem olhar a quem, por meio de suas práticas de benzeção - a exposição coletiva reverencia o saber popular, abraçado pela dimensão do divino e de todos os guardiões invisíveis.

As obras são fruto de processos artísticos rotineiros dos participantes, a maioria praticante de religiões de matriz africana. Ali, contudo, há espaço para a fé católica, ligada ao desenvolvimento destas religiosidades no Brasil, e a fé evangélica, propagada pela palavra de Deus. “Todas as expressões ligadas a este universo estão contempladas. É como se fossem dois mundos diferentes, aqui e ali, sempre representados nos trabalhos”, explica uma das curadoras, Paty Wolff.

Diferentes vivências reuniram, além dela, nomes como Karla Mesquita, Éder Marques, Célia Soares, Lindalva Alves, João Almeida, Gilda Portella e Hermínio Nhantumbo. Sob a mesma temática, estreantes e veteranos aliaram esculturas em madeira, cerâmica, fotografia, telas e poesia. “Trazemos desde a reverência que os filhos pequenos e adultos fazem, quando pedem “bença” até às bênçãos que pedimos no nosso íntimo, para algo maior.”

Embora trabalhe usualmente com temas diversos, Paty conta que é quase impossível ignorar este recorte, uma vez que ela é admiradora da maioria dos rituais representados ali.  A mistura também se conecta com as reflexões sobre si e suas relações de ancestralidade. Diante disso, a artista levou para o Misc vasos de hortelã, alecrim e manjericão, usados tanto na culinária, quanto para chás e banhos especiais, explicitando a relação entre o ser e a natureza.

Rodeada por mini rostos de argila e bocas suturadas com cobre, a peça “Tem Benças Que Não Pode Ser Ditas” carrega também uma mensagem crítica. “É como se esse conhecimento fosse censurado, por ser tido como maligno e visto com preconceito. Por isso elas têm as bocas costuradas. Todo mundo faz seus chás, tem suas plantas, mas muitas vezes não fala porque há essa barreira, reforçada pela indústria farmacêutica. Então toda essa sabedoria vai se perdendo”, diz.

Reforçada pela importância da celebração da Consciência Negra, ao longo de novembro, a exposição se caracteriza também por levar o conhecimento dos lares para dentro do Museu. “É um esforço relevante em um momento de fragilidade política nos setores da cultura. Queremos ocupar este espaço para valorizar experiências diferentes, que levem o público para dentro de si. A visitação é um momento para uma experiência íntima e ao mesmo tempo pública, porque fica exposta.”

“Bença” foi inaugurada na quinta-feira (01), sucedendo a mostra LGBTQI+ “Viver É Um Ato Político: Nossa Arte é Nossa Voz”, instalada no Museu entre setembro e outubro, e o Encontro Municipal de Mulheres Negras, realizado no último dia 27. Nesse contexto, o Misc reafirma seu compromisso com a diversidade, consolidando o papel da gestão de manter um espaço democrático e acessível a todos, dando oportunidade para que diferentes artistas ocupem o casarão e promovam seus trabalhos. 

Livre para todos os públicos, a exposição não oferece conteúdo de violência ou tom sexual, e fica aberta até o dia 31, das 8h às 11h e das 13h às 17h. Mais informações podem ser obtidas por meio do número (65) 99253-1234.


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