PRIMEIRO RESPIRADOR PULMONAR EM MT -Por Gilda Portella
Para realizar esse grande feito utilizou um Ambu (reanimador manual que promove a ventilação artificial, enviando ar ao pulmão do paciente) que foi cedido pela Secretaria de Saúde municipal; um motor de vidro elétrico de automóvel, uma fonte antiga de computador que "ganhou"’ de um amigo; parafusos, braçadeiras e a tinta foram que foram "presenteadas" por um proprietário da loja de ferragens da cidade.
O inventor Zezinho explica que assistiu a vídeos e ao ver uma reportagem na TV sobre uma montadora de automóveis que iria fabricar respiradores pulmonares usando motor do limpador de para-brisa foi despertado e o assunto aguçou sua imaginação, sua criatividade e ali já começou a projetar o seu protótipo.
Zezinho fala das etapas da pesquisa, da execução do projeto e experimentação do produto com uma simplicidade que só almas generosas são capazes de exprimir, ao relatar: “Já caiu na hora, na minha cabeça a fórmula, o modelo de como deveria ser feito. Na mesma hora corri, peguei o motor de vidro elétrico do carro e fui fazer os cálculos. Vi que "dava" certo.!" Arrumei o Ambu com a SMS e fiz os cálculos para que ele funcionasse através de um mecanismo tocado por esse motor”.
Zezinho continua: “Fui trabalhando no experimento, fabriquei o primeiro modelo. Vi que ficou muito grande, que algumas coisas estavam travando e não davam certo. No outro dia, desmontei, e no dia seguinte, fiquei o dia inteiro. Refiz todo o projeto, calculando e vendo o movimento, como deveria ser, onde tinha que colocar rolamento. Procurando fazer o mais simples possível e de uma forma que esse mecanismo trabalhasse em cima do Ambu pressionando "ele". O espaço de precipitar é maior que o espaço de liberar o ar do pulmão; 2 minutos pressurizado e 1 minuto pra "tirar" o ar. O Ambu tem uma regulagem pra auxiliar.”
Com a voz suave e doce Zezinho esmiúça os meandros da saúde pública brasileira de forma simples. O tom da fala tem serenidade e segurança ao discorrer acerca das dificuldades que o setor público enfrenta ao adquirir os equipamentos mais elaborados e com tecnologia de ponta, porém onerosos, expressa conhecimento ao afirmar que grandes empresas do ramo detêm o monopólio e controlam o mercado de produtos hospitalares e farmacêuticos e isso torna os preços estratosféricos. Acrescenta ainda que o papel da Vigilância Sanitária de garantir a qualidade dos produtos que serão comercializados fica amarrado ao processo burocrático e os governos por sua fez cobram impostos exorbitantes. Sensível a tudo desabafa: “Vendo a dificuldade do país em adquirir os respiradores, olhando o valor que varia em torno 130 mil reais avalio que seja muito dinheiro num aparelho para ajudar na respiração humana. Só por causa da automatização, funciona com energia elétrica, achei muito caro. Muito difícil um Município pobre como o nosso adquirir. E quando se fala em aparelhos para a saúde é tudo muito caro e de difícil acesso”
Fala do seu hobby: “gosto de inventar, principalmente quando fala que é para beneficiar a área da saúde. Eu adoro estar ajudando as pessoas. Isso é um Dom divino que eu tenho. Não é difícil ajudar. E sempre que eu puder e enquanto minha cabeça "funcionar" vou inventar alguma coisa para ajuda as pessoas. Sempre vou estar fazendo. É muito gratificante. Adoro fazer isso!”
O inventor torixorino destaca que o primeiro ventilador pulmonar servirá: “para sanar as dificuldades respiratórias dos pacientes em decorrência de complicações da pneumonia ou enfisema pulmonar. Vai facilitar a vida do paciente porque a ventilação será automática. "Liga" na energia, ele vai funcionar dia e noite sem nenhum problema. Nele dá para injetar oxigênio, se preciso for. O Hospital Municipal São Matheus não tinha esse produto, agora já temos e vai facilitar o trabalho do profissional da área de saúde”.
Comenta a repercussão que a postagem do vídeo sobre a sua invenção teve no Facebook: “Não esperava que isso tomasse a proporção que tomou. Foi postado hoje à tarde, já esta com mais de 6 mil visualizações. Não esperava que tomasse essa dimensão. Você faz “um trem”, não para seu nome ser expandido pelo o que você fez. Mas, se Deus quis assim "tá" bom, também.” O brilhantismo da ideia fora prontamente compartilhado nessa rede que é uma tendência mundial, onde se empregam energia, criações e a mitigação dos custos para a conclusão de projetos que contemplem o coletivo.
O gosto pela invenção e o prazer de ver seu invento sendo útil a coletividade flui com forma de altruísmo e desapego. A certeza que o hábito de “dar sem esperar nada em troca” é vivenciado quando afirma: “não quero patentear, não quero registrar. Não fiz o aparelho pra eu usufruir dele. Não fabriquei o aparelho para enricar com a desgraça dos outros. Espero que aqui ninguém tenha que usar aquilo aqui por causa do coronavírus.”
Quando indagado acerca de outras invenções, relatou o projeto de construir uma cadeira de rodas elétrica com motor do vidro de carro; destacou a invenção da máquina de furar poço semiartesiano e as brocas utilizadas, o que lhe permite trabalhar sozinho minimizando custos e reduzindo o preço final do produto.